México
E como fazer pra seu filho não esquecer do país em que ele nasceu?
A possibilidade de criar minha filha em outro país me entusiasmou muito.
Porque eu teria condições de proporcionar-le além de uma melhor condição e qualidade de vida, a chance de ser fluente em um segundo (no caso dela, terceiro) idioma.
Tive muito medo de como seria submete-la a viver longe da família , de seus amigos e mudar sua vidinha toda. Tinha pesadelos com isso! A postura que adotei foi sempre focar no lado positivo das coisas: que eu pela primeira vez na vida poderia levá-la e buscá-la na escola, que ela teria como brincar na rua e eu preparar seu almoço. Eram os atrativos que eu tinha no momento.
A adaptação dela foi de 120%. Em duas semanas, ela que veio com o conhecimento básico de espanhol (cores, animais...) já se comunicava com as crianças daqui e formava frases, muito melhor que eu. Descobri que a linguagem das crianças, é universal.
Depois que ela escolheu a escola que gostaria de estudar então, decolou. Nunca precisou fazer reforço e encho mesmo o peito pra dizer que é uma das melhores alunas do colégio (inclusive, pasmem, na matéria Español, que equivale ao nosso Português!). Ela já fala sem acento e como uma mexicana, tem muitos amigos e até paquerinha (!).
O que eu tenho pra falar com tudo isso?
É que as crianças, não se preocupem elas se adaptam BEM MAIS que imaginamos.
As crianças precisam de muito menos coisas que você imagina.
Aí acontece algo que nem sequer pensamos , na euforia de mudar de país.
Seu filho está crescendo e aprendendo outra cultura. Na escola , ele (a) é o melhor na História do México, mas não faz a mínima idéia de quem é Dom Pedro I. Ou seja, eles cumprem o papel deles! A minha até os nomes difícieis da cultura asteca já aprendeu e tira onda! Mas dia desses, num jogo de perguntas do ipad, tinha uma pergunta : "Quem assinou a lei Aurea no Brasil?" Ela não tinha idéia do que estávamos falando. Mas se eu perguntasse sobre Benito Juarez, me daria sua biografia, já que acabava de voltar de uma semana de um tour da independência pelo país.
Parei e comecei a fazer um monte de observações:
- Por mais que aqui em casa a gente converse em português, minha filha já está se esquecendo do idioma. Ela passa o dia todo na escola, com seus amigos, chega faz as tarefas em espanhol e vai brincar com seus amigos daqui. Se eu estou me atrapalhando já, imagino ela! Então ela que sempre falou muito corretamente, já monta umas frases "índios".
- Ela está se acostumando a viver com os costumes mexicanos. Aqui, a maioria das meninas são porristas (lideres de torcida), vão impecável pra escola , como manda literalmente a cartilha: sem um fiozinho fora do lugar, unhas sem esmaltes, sapatos engraxados. Culturalmente, as experiências deles são e serão totalmente diferente das nossas. Não conheço as musiquinhas, as brincadeiras, os ídolos das crianças mexicanas, mas ela, sabe todos. Tento me interar também, descobrir quem são os CD9.
- Aqui ela não vive mais sem quesadillas, tortillas e arrachera. Ou seja, não sente falta do filãozinho com leite ...e sim, da quesadilla de puro queso.
- Ela já está falando 3 idiomas e meio: Espanhol, Inglês (aqui é muito, muito forte!) , Português e Francês (meio....).
- Dói muito criar seu filho longe da família, ainda mais sabendo que ela é a única criança da família. Mas o que compensa é que aqui eu e meu marido participamos 100% de sua vida. Dividimos responsabilidades e discutimos sobre tudo.
- Ela está tendo uma visão de disciplina muito forte. Aqui é rigoroso, tudo. O respeito que as crianças tem pelos pais é muito aparente.
O que eu posso fazer pra que minha filha tenha uma amnésia de onde ela veio?
- Tento sempre força-la a falar em português.
- Sempre busco filmes em português na internet, ou no Netflix, pra que ela possa treinar o ouvido.
- Livros e gibis, tenho que forçá-la a ler.
- Comunicação com a família: criança é fogo, odeia telefone e internet com o mundão lá fora esperando por elas. Mas tem que forçar, pra não perder o vínculo. E não é falta de amor ou de saudades. É que tem 40 amiguinhos sempre na porta chamando.
- Procurar um livro de História do Brasil pra eles, e contar sutilmente, como hobby. Definir um dia e uma hora pra , numa conversa interessante, ir plantando conceitos básicos da nossa cultura.
- Cozinhar sempre uma comidinha típica que eles gostem!
Tudo muito saudável, pra que não vire nostalgia.
E eu nunca tinha pensado que eu teria que lutar contra a "amnésia" da cabecinha dela.
A gente esquece que eles são crianças , adaptáveis , e quem sofre é a gente!
Não sei se voltaremos ao Brasil, na verdade, no atual momento nem quero! Mas não quero que ela não tenha referência nenhuma do país que ela nasceu!
Besitos/Beijinhos!
;)
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