México

Confissões de uma "Ogra".

Aí eu estou em casa, com meus afazeres cotidianos (pausa pra reflexão: quando mudei a grande dúvida das minhas amigas era se eu aguentaria jogar pro alto minha carreira de contadora, de maluquice, de stress, de balancetes, enfim, se eu seria uma dona de casa. Estou eu aqui, sendo 220 V em casa mesmo, sem ter que passar cartão ponto. OK, sou hiperativa) e meu marido me liga: ?Amor, o que você quer que o Felipe traga do Brasil? ?. Pensei, pensei, pensei...

?- Comida aqui eu tenho tudo, achei substituto pro feijão, pro requeijão, aprendi a fazer tudo o que eu gosto.... Até batata palha, farofa e massa de pão de queijo a Neli e sua equipe distribui pro México todo. Comida não seria necessário...

- Meus avós. (cara de choro....) É difícil meus avós aderirem a modernidade. Eu tento conversar com minha avó pelo skype, mas é tão difícil, ela chora, chora e tem o poder de me fazer chorar. Quem é que gosta de ver avó sofrendo? Ela fala chorando pra eu sair de dentro da caixa (computador). Não há coração peludo que resista... Mas não dá pra eles virem.?

No mesmo dia , converso com minhas amigas e uma me conta toda animada que nossa outra amiga , que vive nos Estados Unidos, estava em terras tupiniquins. E eu converso com a outra que vive em Londres e me diz que o sonho dela é voltar pro Brasil.

Me senti um ogro. Uma desnaturada. Uma traidora.

Por que?

Eu não tenho vontade alguma de voltar pro Brasil. Não é descaso, não é falar mal do país que eu nasci, não é cuspir no prato que comi. Simplesmente é falta de vontade. (Será que eu tenho problema?)

Óbviamente morro de saudades da minha família, do colo dos meus avós, da minha mãe e de todos os meus amigos, todos. Mas sempre quero que eles venham pra cá, que eu apresente o México pra eles. Vou voltar pro Brasil, claro que vou, pra visitar um a um. Mas o que me deixa pensativa é ?por que não tenho vontade??....

Talvez seja porque aqui, tenho acesso a muita coisa que não tinha lá.

Porque eu posso me dar ao luxo de ficar em casa, e acompanhar a vida da minha filha...Desde reuniões na escola até desabafos sobre o primeiro amor.

Porque eu tenho um jardim!!!! Onde eu me orgulho de cada florzinha que nasce.

Porque eu tenho um sentimentozinho dentro de mim, de descobrir cada pedaço desse país (não me julguem, não sei por que, talvez porque eu tenha tempo agora de notar esse sentimento...)

Poderia ser tudo perfeito e meus amigos todos mudassem pra cá... A Dê e a Lê serem minhas vizinhas, a Patty e a Dê morassem logo ali , e as meninas do Office tivessem o escritório em frente a Plaza San Luis, e a Sil batesse perna o dia inteiro comigo no shopping. Shopping o qual eu tomaria muitas cocas zeros com a Liris. E que minha familia, morasse a uma horinha de SLP.....rs Pra gente almoçar no domingo! Saudades de vocês!

De um jeito ou de outro, aqui vivemos melhor. Não estamos ricos!!!! Longe disso.

Trabalha-se muito, pobre esposo (não tem feriado e nem dia santo....), mas , temos acesso a muitas coisas que no Brasil levaríamos anos pra conseguir (e se conseguíssemos.) A melhor educação possível podemos proporcionar pra nossa filha, não sem esforço, mas , com MENOS esforço. Consigo comprar itens capitalistas inacessíveis anteriormente, sem ter que pedir pra aquela amiga que vai passar as férias na Flórida.... Moro bem, pelo mesmo preço que pagava num cubículo em Limeira/SP.

Aprendi a ser mais tolerante morando fora, a ser mais independente e decidida. Aprendi também a fazer o que eu estou afim, vestir o que eu estou afim, sem me importar com os outros! Aqui ninguém tá nem aí se você está de bolsa do tiangui ou com uma Michael Kors. E maquiagem boa vende no mercado,aquele mesmo, de carrinho!

E pra terminar, cada vez que eu assisto o Jornal Nacional, ou, falo com meus amigos, mas desanimada eu fico, com o rumo que o país está tomando. O México não é perfeito, é 3. mundo também, mas aqui não nos afeta tanto. E não estou dizendo que mudar pro México te proporcionará isso, longe de mim. Viemos numa situação estudada.

Então, como diz um sábio amigo, FOCO, na parte cheia do copo, não na vazia. Não sei o que vai ser amanhã, depois, daqui 10 anos, mas tem sido uma experiência rica e ímpar.

Não vou me sentir culpada. Amo minha família e meus amigos, eles sabem. Estou focando na parte cheia do copo. A vazia tá ali.

Foi só um desabafo dessa maluca aqui que ficou se perguntando porque não tem vontade de voltar. Por isso blog é bom, você escreve até suas doidices.

Besitos.

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